quarta-feira, outubro 22, 2008

Android Livre?

Eu acho que deve haver um bom estudo da relação custo versus
benefícios. Toda vez que olho para os mercados de telefonia móvel,
vejo como parece ser uma estrutura muito boa para as empresas, mas
quase sempre prejudicial para o consumidor. Acho que aqui cabe um
paralelo entre os celulares e os desktops.

No final da década de 70, a IBM dominava o mercado de computadores.
Seu foco eram os mainframes e minicomputadores, para clientes
comerciais de médio e grande porte juntamente com instituições de
pesquisa. A idéia de um PC em cada mesa além de parecer absurda
financeiramente, não era vista como bom negócio pois a maioria da
população não tinha sequer noção da existência de computadores. Acabou
que jovens criados na filosofia paz e amor dos anos 60 assumiram e
acreditaram em tal mercado. Vários hobbystas surgiram e por fim um
deles (Jobs) teve sucesso. Estava criada uma indústria, com novos
líderes (Jobs e Gates) e com muita dor de cabeça para a IBM se
recuperar, algo que de fato ela nunca conseguiu.

Por mais que fosse igualmente proprietária a indústria antiga de
início, com o tempo a abertura da arquitetura x86 expandiu as
possibilidades para o consumidor. Apesar do monopólio ter sido mantido
no lado software, no mundo do hardware várias opções de qualidade
surgiram. E mesmo com o poder na mão da Microsoft, o Windows nunca foi
uma plataforma restritiva, sempre houve SDK's e conhecimento sobre
como desenvolver no sistema liberados e até mesmo incentivamos
firmemente pela Microsoft. Nunca uma indústria tinha incentivado seus
clientes a expandirem o uso de seus produtos até onde fosse possível.
Tal liberdade gerou inúmeras soluções de software, acabou por permitir
a Internet e o Código Aberta. Infelizmente, aí chego no meu ponto,
toda liberdade traz seus problemas. No caso, alguns programadores
maliciosos começaram a desenvolver talvez a primeira forma de vida
artificial: O Vírus de computador. A partir daí, spywares, malwares e
toda sorte de praga virtuais passaram causar milhões em prejuízo. Mas
veja que o lucro de onde era tirado o prejuízo nunca teria chegado a
existir caso não fosse a mesma liberdade que as plataformas de
informática permitiam. Para o consumidor, seria melhor que as empresas
investissem em boas soluções formalmente seguras e a liberdade fosse
mantida. Para as empresas, o melhor seria simplesmente acabar com as
ameaças, nem que a liberdade do sistema fosse ameaçada.

Aí entra a telefonia móvel. Uma tecnologia que seria mais
revolucionária que os computadores de mesa. Deixariam as empresas que
qualquer um pudesse ter liberdade de usufruir da tecnologia de
qualquer maneira? Teriam coragem de favorecer o consumidor e investir
em segurança real e formalmente validada? Claro que não. Com a chance
de planejar antes de implantar, temos o mercado de telefonia de hoje.
Tecnologias como bloqueamento de aparelhos, apesar de hoje já
ultrapassadas, encheram os cofres das operadoras. Os fabricantes,
capazes e sedentos por inovações, são vítimas das operadores. Tudo
muito planejado, tudo muito aprisionado. Taxas e mais taxas, serviços
"fake" e ineficientes, suporte por telemarketing, um exemplo de
mercado para companhias e não para o consumidor.

Aí vem nosso amigo Google com a proposta de plataforma livre. Mas já
vemos que a idéia nem vai ser tão livre assim. Nenhuma operadora iria
permitir um celular que oferecesse tanta liberdade ao cliente. Todos
nós sabemos como são essas redes, altamente mal dimensionadas. É
melhor aprisionar o cliente, para não ter custo de manutenção. Eu
torço que as empresas da NASDAQ consiga fazer frente ao tradicional
pessoal da telefonia. A Apple já conseguiu muito bem ganhar peso no
mercado com seu aparelho. Se continuarmos produzindo aparelhos tão
fantásticos, talvez haja uma mudança de poder. Caso contrário, iremos
continuar na mesma e toda pesquisa sensacional feita em dispositivos
móveis corre o risco de ficar na cesta de lixo de algum burocrata das
operadoras.


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2 comentários:

abner disse...

do jeito que voce escreveu, parece que os virus surgiram porque os fabricantes de softwares deram liberdade aos usuarios, mas nao acho que é bem assim. porque escrever um software e executar em um SO é algo basico e que quase que independe do fabricante.
sobre a telefonia, eu acho que o problema todo é que a maioria desses softwares pra celulares sao meio inuteis ainda. não é algo necessario ou indispensavel pras pessoas,talvez seja um dia, ou talvez nunca seja, mas ainda nao é util como um desktop.

João Marcelo disse...

Eu acho que os vírus somente surgiram porque houve liberdade. Veja bem, nos dispositivos móveis de hoje, na maioria dos casos o acesso a partes críticas dos sistemas operacionais é vedado ao desenvolvedor. Claro que tem como ser burlado, mas é mais difícil. No caso dos pc's, desde o início os desenvolvedores tiveram liberdade total, para escrever em qualquer parte do C:. Isso com certeza foi determinante tanto para o sucesso do modelo de negócio quanto para a criação de vírus. E não é tão independente do fabricante, afinal posso criar um S.O e somente permitir que executem programas que eu assinar digitalmente, como é feito por várias empresas de celulares, poderia muito bem ser aplicado no desktop.

Enquanto a utilidade, o desktop é inútil na mais da metade do tempo. Afinal, o Orkut deve ser o site mais acessado no Brasil, não é? Seguido logo em seguida pelos Jeremias no Youtube. O que faltam são boas aplicações, sejam elas úteis ou não.